Sono Um poderoso aliado
ESSENCIAL Ao contrário do que muitos pensam, dormir não é um desperdício de tempo. A cabeça continua "plugada" nos problemas e funciona melhor ao acordar
Há quem se vanglorie de dormir quatro, cinco horas porque acha um desperdício ficar oito horas na cama. Mal sabe que dormir pouco tem conseqüências diretas na atividade mental. Deixar o cérebro descansar significa ter sua capacidade de ação aumentada. "Dormir pouco é como correr a São Silvestre com uma lesão", compara o neurologista Flávio Alóe, do Centro de Estudos do Sono do Hospital das Clínicas. "Você termina a corrida, mas pode errar mais, demorar muito tempo para concluí-la e se prejudicar."
O cérebro sofre muito com uma noite mal dormida (leia o quadro à pág. 74). Essas alterações estão ligadas à privação do sono REM, o período em que acontecem os sonhos. É durante essa fase que o cérebro armazena o que foi aprendido durante o dia e deleta tudo aquilo que não interessa. Vários estudos comprovam que quem passa o dia estudando um problema e tem uma boa noite de sono acorda com novos e mais certeiros caminhos para resolvê-lo. Vale tanto para questões profissionais como para um jogo de videogame e até para dilemas pessoais. Há evidências também de que uma ou duas horas extras na cama levam a uma performance melhor em atividades como uma prova. Quando se dorme mais, o poder de concentração aumenta
Quando se dorme menos que o necessário, ocorrem alguns tipos de comprometimento
A criatividade, a concentração, o aprendizado e a capacidade de planejar e resolver problemas diminuem
O humor sofre oscilações repentinas
O raciocínio fica lento
A chamada memória de trabalho (working memory) falha: uma pessoa está conversando com outra, toca o celular, alguém dita um número de telefone que precisa ser guardado. Quando ela quiser ligar para esse número, a memória a trairá
Fonte: University of California
Memória Potencial para o futuro
Ler temas novos e interessantes tem o efeito de um exercício para a memória
Treinar a memória equivale a treinar os músculos do corpo - é preciso usá-la ou ela atrofia. Há duas boas maneiras para fazer isso: a primeira é a leitura, porque, no instante em que se lê algo, ativam-se as memórias visual, auditiva, verbal e lingüística. "A qualidade do que se lê importa mais que a quantidade, porque gostar do assunto gera interesse", diz o médico e pesquisador Iván Izquierdo, diretor do Centro de Memória da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul. A memória sofre influência do humor e da atenção, despertada quando existe interesse em determinado assunto ou trabalho - o desinteresse, ao contrário, é uma espécie de "sedativo", que faz a pessoa memorizar mal. A outra forma de deixar a memória viva é o convívio com familiares e amigos, com quem se podem trocar idéias e experiências. "Palavras cruzadas são inferiores à leitura, mas também ajudam. Da mesma forma que ouvir uma música e tentar lembrar a letra ou visitar uma cidade para onde já se viajou e relembrar os pontos mais importantes", afirma Izquierdo.
É preciso corrigir o estilo de vida para manter a memória funcionando bem. "Uma pessoa de 40 anos só sofre de esquecimento se viver estressada e tiver um suprimento de informações acima do que é capaz de processar. Não dá para esperar o mesmo nível de retenção de informação quando se lê um e-mail enquanto ä se conversa ao telefone e é interrompido pela secretária. É preciso dar tempo para o cérebro", explica o psiquiatra Orestes Forlenza, da USP.
Segundo Barry Gordon, professor da Johns Hopkins Medical Institution, a memória "comum" focaliza coisas específicas, requer grande quantidade de energia mental e tem capacidade limitada, deteriorando-se com a idade. Já a "inteligente" é um processo que conecta pedaços de memória e conhecimentos a fim de gerar novas idéias. É a que ajuda a tomar decisões diárias, aquela "luz" que se acende quando se encontra a solução de um problema. Por exemplo: a comum esquece do aniversário da mulher; a inteligente lembra o que poderia ser um presente especial para ela. A comum esquece o nome de um conhecido encontrado na rua; a inteligente lembra o nome da mulher dele e onde ele trabalha, pistas que acabam levando ao nome da pessoa.
Relaxamento
Alma leve, cabeça idem
Manter a cabeça tranqüila, livre do stress e dos pensamentos negativos, também melhora a performance mental
Inimigo do corpo, o stress também faz mal para a mente. Os hormônios produzidos por ele matam células neurais ligadas à memória. Fazer ioga e meditação ajudam. Mas não basta apenas relaxar. "Você é o que você come e também o que você pensa", diz o neurocientista Daniel Amen. "Quando temos bons pensamentos, nossa mente libera substâncias químicas diferentes de quando estamos zangados. O stress do pessimismo gera substâncias que atrapalham o fluxo sanguíneo. E tudo o que prejudica a circulação interfere no bom funcionamento cerebral", diz Amen. Ouvir música também faz bem. "Gera estimulação cerebral, principalmente nas áreas ligadas ao prazer", diz o psiquiatra Forlenza. "E ajuda a estimular processos intelectuais, como raciocínio e pensamento."
Fonte: http://revistaepoca.globo.com/Epoca/0,6993,EPT1062522-1664-3,00.html