
Por Marcelo de Valécio
Com o mote "quem sai na frente sempre acaba liderando" martelando na cabeça, o administrador de empresas Waldir Eschberger Júnior, de 52 anos, vice-presidente de mercado da EMS, partiu para uma operação logística poucas vezes vista no setor farmacêutico brasileiro. Em 24 horas da extinção da patente do Viagra - medicamento para disfunção erétil e um dos maiores sucessos da Pfizer -, o genérico e o similar produzidos pela EMS estavam à disposição do consumidor em farmácias de todo o País. "Nunca foi estruturada uma operação tão grande na empresa", diz Eschberger. "No início da tarde de 21 de junho, dezenas de caminhões deixaram a fábrica de Hortolândia, interior de São Paulo, carregados com 300 mil comprimidos. Parte desse lote foi despachada de avião para cidades do Norte e do Nordeste. Nosso objetivo era levar o genérico do Viagra às prateleiras apenas um dia após a queda da patente. E conseguimos", conta o executivo nascido em Porto Alegre. O próximo passo é lançar antes dos demais concorrentes o genérico do Lipitor, também da Pfizer. Em meados de agosto, a EMS conseguiu uma liminar favorável para começar a comercializar o Lipitor, e a Pfizer recorreu. Eschberger, que é casado, pai de três filhos e tem a prática de corrida como principal hobby, conta nesta entrevista exclusiva ao Guia da Farmácia como se deu essa operação e por que a empresa decidiu lançar de uma só vez um genérico e um similar do Viagra. Guia da Farmácia A EMS promoveu uma grande mobilização logística para o lançamento do genérico do Viagra. Como se deu essa operação? Por que a urgência? Waldir Eschberger Júnior A corrida para lançar as versões genérica e similar do Viagra se deve à dimensão e importância desse mercado. E quem sai na frente sempre acaba liderando o segmento específico. Para levar o genérico do Viagra às prateleiras apenas um dia após a queda da patente, a empresa montou uma operação de distribuição que incluiu até enviar o medicamento por avião. No início da tarde de 21 de junho, dezenas de caminhões deixaram a fábrica de Hortolândia carregados com 300 mil comprimidos, provenientes do lote piloto, utilizados para os testes e registros na Anvisa. Parte desse lote foi despachada via aérea para cidades do Norte e do Nordeste. Guia Além do genérico, a EMS também colocou no mercado um similar do Viagra, o Suvvia, imediatamente depois do fim da patente do produto da Pfizer. Como se deu o processo de produção desses medicamentos? Eschberger Ao todo, foram três anos de pesquisa e investimentos da ordem de R$ 20 milhões. O desenvolvimento do genérico e similar do Viagra mobilizou toda a equipe da EMS envolvida com P&D, composta por mais de 200 pesquisadores, entre farmacêuticos, químicos, biólogos, mestres, doutores e consultores nacionais e internacionais. Este é considerado o maior time de pesquisa e desenvolvimento do Brasil. A EMS vem se preparando ao longo dos últimos anos para enfrentar uma nova realidade: um mercado com diversas possibilidades de crescimento, tendo em vista as expirações de patentes que estão por acontecer. A empresa aumentou seu parque fabril de Hortolândia em 2007, ampliando imediatamente a capacidade produtiva para 360 milhões de unidades por ano. E no segundo semestre de 2010 novos investimentos serão realizados para elevar a capacidade de produção da empresa em 10 milhões de unidades por mês, de modo que pretendemos chegar a 480 milhões de unidades produzidas/ano já a partir de 2011. Guia Por que a empresa decidiu lançar de uma só vez um genérico e um similar do Viagra? Um não pode canibalizar o outro? Eschberger Para conquistar e contemplar uma fatia maior do mercado. A versão genérica é divulgada pela EMS Genéricos junto aos farmacêuticos nos pontos de venda (PDVs). Já a versão similar, o Suvvia, é trabalhada pela EMS Sigma Pharma, que é a área de prescrição da empresa junto aos médicos. O Suvvia, portanto, é um produto única e exclusivamente vendido sob prescrição médica. Essas duas divisões da EMS, que são independentes e possuem forças de vendas e estratégias de marketing distintas, nos colocam em contato com esses dois públicos de extrema importância para a empresa. Guia E se a Pfizer conseguisse prorrogação da patente, o projeto seria engavetado? O que aconteceria com a linha de produção? A companhia trabalhou com essa possibilidade? Eschberger Se a patente tivesse sido prorrogada, a EMS iria respeitar o prazo de sua validade para iniciar a produção do medicamento. E esse cenário não teria causado prejuízos para a empresa, já que, por lei, a produção em escala industrial só pode ser iniciada após a expiração da patente. Antes disso, apenas é permitido produzir uma pequena quantidade para efeito de desenvolvimento e testes. Ou seja, iríamos aguardar uma nova oportunidade que, inevitavelmente, surgiria. Guia Qual o potencial de mercado para medicamentos para disfunção erétil no Brasil? Qual a fatia que a empresa espera abocanhar desse mercado? Eschberger A EMS espera conquistar 50% desse mercado até a metade de 2011. O Viagra é um dos medicamentos mais vendidos no País e movimentou cerca de R$ 170 milhões no ano passado. Em âmbito global, esta quantia chegou a US$ 1,9 bilhão. Guia Quais são os próximos alvos da EMS? Eschberger A EMS trabalha para colocar no mercado a versão genérica dos principais medicamentos que estão para perder a patente. Até 2011, 25 importantes medicamentos devem perder as patentes. Dez deles líderes de vendas, como Lipitor e Diovan, por exemplo. O mercado representado pelas patentes que expiram nesse período é de aproximadamente R$ 800 milhões. Estendendo este prazo para 2014, pode-se falar em um mercado em potencial de mais de R$ 2,6 bilhões, segundo levantamento da Pró-Genéricos. Guia Além de genéricos, a EMS pretende investir em outras áreas? Como funciona a área de pesquisa da empresa? Eschberger A EMS investe 6% do seu faturamento anual em pesquisa e desenvolvimento e conta com profissionais encarregados de analisar as patentes que estão por expirar e, também, de indicar a viabilidade de começar a produzir um determinado medicamento. Tudo é feito de forma por mais de 1,7 mil apresentações, com produtos de maior valor agregado. A EMS pretende lançar as versões genéricas dos principais medicamentos que terão suas patentes expiradas. Uma área que também vem recebendo investimentos expressivos da empresa é a de prescrição médica - a EMS Sigma Pharma. Desde 2009, essa divisão passou por uma completa reformulação, visando acompanhar as tendências e exigências do mercado. Além de mudanças no departa¬mento de marketing, 72% da força de vendas da empresa foi reformulada e conta com profissionais de grande experiência de mercado e altamente capacitados, preparados para atingir o objetivo de levar a EMS à liderança em prescrição. A EMS Sigma Pharma possui a maior força de vendas do Brasil, com aproximadamente 1,5 mil propagandistas, que realizam, mensalmente, 400 mil visitas médicas. Guia Quais são os planos de investimento da companhia para 2011? Eschberger A empresa aguarda a chegada de novos equipamentos até setembro, o que irá ampliar a produção em 10 milhões de unidades/mês. Com essa iniciativa, estaremos totalmente preparados para atender à demanda que surgirá no próximo ano. E, de forma geral, continuaremos investindo na capacitação dos funcionários e no treinamento, capacitação e fortalecimento das nossas forças de vendas. É importante destacar que a EMS se preparou muito para os bons resultados que vêm sendo obtidos desde 2009. Por exemplo, contratou executivos com grande experiência de mercado para conduzir a profissionalização das áreas de negócio da empresa e aprimorou o relacionamento com os médicos, implantando, inclusive, um programa de visitas à fábrica especialmente voltado para esse público. Guia A onda de fusões no mercado farmacêutico parece não ter chegado ao fim. A EMS cogita se associar ou adquirir outros laboratórios para incrementar sua participação de mercado? Eschberger A EMS não tem nenhum interesse em uma fusão. Quanto à aquisição de novos laboratórios, a EMS, como empresa líder, estará sempre atenta ao mercado e às boas possibilidades que dele propiciem. Mas, no momento, não temos nada definido nesse sentido. Guia A EMS está voltada para o mercado interno ou as exportações estão em pauta? Neste caso, quais são os países que deverão receber produtos da companhia? Eschberger A EMS foi a primeira indústria farmacêutica do Brasil credenciada a exportar medicamentos para a Europa, em 2005, e está aprovada pelo Emea (Agência Europeia de Medicamentos). A EMS exporta para mais de 30 países da América Latina, Europa, África, Ásia e Oriente Médio. Em 2009, as exportações da empresa cresceram 18,3% em relação ao ano anterior. E para 2010, as expectativas são otimistas. Calculamos um aumento de 30%. No total, possuímos aproximadamente 300 registros no exterior. Os principais mercados são Portugal, Itália, Inglaterra e Leste Europeu. O mercado do Oriente Médio também é bastante estratégico para a empresa, compreendendo Líbano, Jordânia, Iraque, Israel, Iêmen, Arábia Saudita, Líbia e Emirados Árabes. E para os próximos anos, vamos trabalhar para acessar novos mercados. Guia Qual a expectativa da empresa em relação ao projeto de rastreamento de medicamentos? Em que medida ele beneficia o setor e o consumidor? Eschberger A EMS apoia todas as ações que visem impossibilitar a falsificação e a clandestinidade e, além disso, garantir a transparência do setor. Isso é bom para a indústria e para o consumidor. Guia Qual o impacto do aumento da expectativa de vida do brasileiro no setor farmacêutico? Os laboratórios terão de investir mais em medicamentos para doenças crônicas, por exemplo, visando melhorar a qualidade de vida dos pacientes? Na sua empresa estão previstas mudanças no mix de produtos por conta disso? Eschberger Em função do aumento da expectativa de vida do brasileiro, a EMS se prepara para disponibilizar, cada vez mais, produtos de alta qualidade tendo em vista as novas necessidades de tratamento de saúde da população. A EMS pretende prosseguir e trabalhar ainda mais intensamente para aumentar o acesso dos pacientes a medicamentos de eficácia garantida a preços baixos em todas as áreas da medicina.
Fonte: Guiadafarmacia.com.br