
A médica explica que as normas internacionais de cefaleia dividem as dores de cabeça em dois grupos majoritários: os casos primários e os secundários. As cefaleias primárias, segundo Eliana, são aquelas chamadas tensionais, em que há motivos definidos que originam a dor, como a má alimentação, o estresse, o cansaço ou a insônia. As tensionais também têm um outro subgrupo, que são as famosas enxaquecas, caracterizadas por dores crônicas e mais pesadas, que dificultam, inclusive, a interação social dos pacientes.
Integrante do Centro de Dor e Neurocirurgia Funcional do Hospital Nove de Julho, em São Paulo, o médico Antonio Cézar Galvão esclarece que as enxaquecas podem durar até 72 horas ininterruptamente e os sintomas incluem ataques de dor com média ou forte intensidade, e, às vezes, podem ser acompanhados de náuseas, vômitos, intolerância aos sons e à luz. "O diagnóstico do problema depende de cada caso e leva em conta o histórico familiar, as condições de vida do paciente e o tipo de alimentação que adota. A frequência com que a pessoa sente a dor também é levada em conta na hora de classificar o problema, contudo, o que o paciente precisa saber é que o médico deve ser procurado se as dores aparecerem mais que três vezes por mês", explica Galvão. As mulheres, segundo o neurologista, são as que mais sofrem com o problema, principalmente no período pré-menstrual. O especialista conta que as dores estão relacionadas com a queda dos níveis hormonais durante os dias que precedem o período menstrual. Em muitos casos, a ingestão de alimentos gordurosos, o uso de medicamentos vasodilatadores, a exposição a ruídos fortes e constantes, além das grandes altitudes e mudanças bruscas de temperaturas podem desencadear o problema.
De acordo com a ABN, grande parte das dores de cabeça crônicas também estão relacionadas a causas psicológicas. "Em alguns casos, além de substituirmos os analgésicos por antidepressivos, pedimos a ajuda de profissionais de orientação psicológica e até mesmo de acupuntura, para os casos relacionados às tensões musculares", explica Antonio Cézar Galvão. O neurologista afirma que o ponto fundamental do tratamento das cefaleias está na prevenção de novas crises. Por isso, os tratamentos são ministrados muitas vezes com medicamentos que agem nos neurotransmissores envolvidos na dor e na dilatação dos vasos, como anti-hipertensivos, anticonvulsivantes e os já mencionados antidepressivos. "Além do acompanhamento farmacológico, é fundamental que as pessoas mudem seus hábitos. Ter horário para comer e dormir são pontos essenciais para aliviarmos as dores crônicas", ressalta o médico.
Outro grande aliado no combate às dores de cabeça são as atividades físicas. Exercícios diários estimulam a produção de endorfinas, que são substâncias produzidas pelo nosso organismo e que atuam diretamente na dor. "Na prática, essas substâncias são analgésicos naturais do nosso corpo e inibem a inflamação e a dilatação dos vasos do crânio, responsáveis pelas dores de cabeça", comenta o médico. Pelo contrário, movimentos bruscos com a cabeça podem agravar ainda mais o problema.
Já as cefaleias secundárias ocorrem com menor frequência no Brasil. Apenas 6,5% dos pacientes diagnosticados com dores de cabeça apresentam problemas neurológicos graves, como acidentes vasculares, meningite ou tumores. Mesmo tendo uma baixa incidência, a procura de um especialista é importantíssima para evitar o agravamento do problema e possibilitar o diagnóstico fácil e o rápido tratamento. Segundo a neurologista Eliana Melhado, da ABN, dores muito fortes e súbitas na parte frontal ou lateral da cabeça são sinais claros da necessidade de acompanhamento especializado. "Geralmente é só nessa fase aguda e insuportável que o paciente se preocupa e pensa que algo mais grave pode ocorrer. Via de regra, se as dores incomodam mais de três vezes por mês, são sinais de que algo não anda bem. Tratar com analgésicos desenfreadamente é retardar a solução de um problema", alerta a médica.
A neurologista Eliana Melhado lembra o papel fundamental que o farmacêutico tem na orientação desses pacientes a partir da implantação das novas regras. "Antes de vender o medicamento, pergunte a quantidade de comprimidos que as pessoas tomam semanalmente e por que tomam esses comprimidos. Se o cliente toma mais de dois ou três por semana, a fim de curar dores de cabeça, é preciso orientá-lo sobre riscos da falta de tratamento", explica a médica. Ela argumenta que o farmacêutico tem papel fundamental na difusão da saúde pública no País. "É o primeiro agente de saúde consultado em qualquer lugar do Brasil. Por isso, é importantíssima a difusão do conhecimento nas farmácias. Aqueles que conseguirem transformar seus estabelecimentos em núcleos de saúde estarão um passo à frente no mercado", completa.
Fonte: Guia da farmacia