De acordo com um estudo longitudinal apresentado no encontro anual de 2010 da American Academy of Allergy, Asthma and Immunology (AAAAI), estresse e criminalidade podem contribuir para a gravidade da asma infantil.
Embora essas associações tenham sido sugeridas em pesquisas anteriores, Ruchi Gupta, médica, mestre em saúde pública, professora assistente de pediatria do Children's Memorial Hospital, em Chicago, Illinois, disse aos participantes do encontro que a forma como “os fatores afetam as crianças ainda não está clara.
Este é o primeiro estudo a observar o impacto da violência real vs violência percebida sobre a asma”.
“Nossos resultados mostram que, além do estresse, podem existir outras coisas que causam este aumento na gravidade da asma”, declarou a Dra. Gupta em uma entrevista à Medscape Allergy and Clinical Immunology.
“Todo o ambiente integrado em que a criança vive pode influenciá-la e, aonde existe violência excessiva, pode haver outros problemas. Eu acho que este é o primeiro estudo a abordar esses fatores”.
Exposição a crimes violentos prediz a gravidade da asma
As taxas de asma são superiores a 20% em determinadas regiões de Chicago, com taxas subsequentes de internações sendo duas vezes a média nacional e as mortes relacionadas à asma entre as mais altas no país, reportou a Dra. Gupta.
Nesta análise, sua equipe avaliou dados do estudo Chicago Initiative to Raise Asthma Health Equity, que incluiu informações sobre a carga da asma, o nível de estresse do cuidador e a exposição da criança/cuidador à violência em 561 crianças (58,7% meninos; 57,4% negros; 25,1% brancos, 15,9% hispânicos) com asma, entre a faixa etária de 8 a 14 anos.
“A incidência real da violência foi obtida do Chicago Police Department”, explicou a Dra. Gupta.
Os dados clínicos examinados incluíram testes radioalergosorventes, espirometria, índice de massa corporal e amostras salivares.
Os resultados ao final da análise de 18 meses evidenciaram que 41% das crianças tinham asma moderada/grave, e 49% tinham asma classificada como intermitente/leve.
Quando os cuidadores relataram terem ouvido ou presenciado algum tipo de violência, experimentado altos níveis de estresse, ou vivido em regiões com altos índices de criminalidade, as chances de terem crianças com asma moderada/grave aumentaram significativamente:
Contudo, “após ajustes para idade, gênero, situação da asma na família e nível socioeconômico, somente a incidência de crimes violentos continuou um preditor significativo da gravidade da asma odds ratio [OR], 1,79; intervalo de confiança de 95% [IC], 1,02 – 3,17," reportou a Dra. Gupta.
Depois de acrescentar o estresse ao modelo, os crimes violentos continuaram um preditor de asma moderada/grave (OR, 1,98; IC de 95%, 1,11 – 3,54). Depois de acrescentar raça/etnia ao modelo, o risco permaneceu, mas não foi mais estatisticamente significativo.
“Embora o aumento dos níveis de violência real, violência percebida e estresse pareça estar associado à asma em crianças, nossos dados sugerem que a real incidência de violência e estresse do cuidador são mais preditivos da gravidade da asma”, disse a Dra. Gupta.
“Como a violência real pode afetar a asma através da via do estresse, nossos resultados sugerem que mecanismos adicionais podem estar em jogo”, ela complementou.
Quando questionada sobre as potenciais implicações deste estudo, a Dra. Gupta afirmou que a identificação de fatores mutáveis na comunidade e contribuintes para a gravidade da asma pode alterar as abordagens para a asma em múltiplos níveis, incluindo planos de tratamento e orientação antecipatória dos médicos da atenção primária, esforços de conscientização e estratégias de intervenção por parte da saúde pública e dos pesquisadores translacionais, e investigações sobre o desenvolvimento e progressão da asma.
“Isso reforça a necessidade de considerar a contribuição de] interações entre genes e meio ambiente ou de vias biofisiológicas nos desfechos”.
A equipe de pesquisa espera ir às comunidades para explorar possíveis fatores contribuintes para a asma. “O problema com as bases de dados é que existem sempre tantas variáveis”, disse a Dra. Gupta.
“Você tenta isolar o que considera mais importante, mas a única forma de saber é ir, de fato, no local e perguntar, e então descobrir quais intervenções funcionam melhor”.
Amarrando sintomas subjetivos e achados objetivos
“O estudo é muito interessante porque foi capaz de amarrar não apenas os sintomas subjetivos, mas também os resultados objetivos dos registros do Chicago Police Department sobre os reais atos de violência e então os correlacionou ao controle da asma”, declarou a moderadora da sessão Asriani Chiu, médica, professora associada de alergia no Medical College of Wisconsin, em Milwaukee e presidente do comitê da AAAAI.
“O que eu considero extremamente importante, especialmente em doenças crônicas como asma, é que existem muitos fatores diferentes além dos mecanismos fisiológicos do processo de adoecimento, como os efeitos psicossociais que estão no ambiente do paciente”, acrescentou a Dra. Chiu.
“Eu acredito que os clínicos realmente precisam prestar atenção a isso. Houve outros estudos, mas este apontou, de forma mais objetiva, qual é exatamente o papel da violência no controle das doenças crônicas”.
A Dra. Chiu, que não participou do estudo, observou que ela gostaria de ter visto alguns dados adicionais, como uso de medicações e sua aderência, e a avaliação de outros mecanismos de enfrentamento, como os grupos de jovens da comunidade. “Mas, da forma como eu entendo, essas podem ser coisas que eles observarão conforme progridem em sua pesquisa”.
“Eu não sei se a maioria das grandes cidades teria recursos para conduzir este tipo de estudo, mas eles certamente podem usar os dados e extrapolá-los, especialmente se sua demografia e outras informações forem similares”, ela complementou.
“Eu acho que, independente de se uma determinada cidade é capaz de conduzir um estudo desse tipo, eles podem utilizar esta informação para beneficiar todos os seus Pacientes e prestadores de saúde”.
As Dras. Gupta e Chiu não declararam conflitos de interesses.
American Academy of Allergy, Asthma and Immunology (AAAAI) 2010 Annual Meeting: Abstract 480. Presented February 28, 2010.