quinta-feira, 3 de março de 2011

Como identificar Bisfenol A (BPA)

Recentemente, o governo canadense proibiu a comercialização de
mamadeiras e chupetas produzidas com um tipo de plástico considerado
tóxico, por conter uma substância chamada “Bisfenol A” (BPA).

O material é utilizado na fabricação de plásticos claros e duros,
incluindo embalagens para armazenar comida de microondas e material
utilizado em dentes para prevenir cáries.

Toxicologistas alertam que o produto químico pode contaminar os
alimentos quanto tem contato com líquidos aquecidos ou lavados com
detergentes.

O limite de segurança aceito para ingestão do "Bisfenol A", segundo
a Agência Ambiental Americana (EPA), é de 50 ppb/dia (partes por
bilhão, por dia). Uma criança alimentada através de mamadeiras
fabricadas com plástico contendo BPA pode ingerir algo em torno de 13
ppb/dia.

Alguns pediatras consideram esse limite perigoso, pois não foram
feitos estudos sobre seu impacto em humanos, somente em animais.
Depois da proibição, fabricantes e distribuidores de produtos
plásticos se mobilizam e respondem à pressão do mercado.

Para Sérgio Graff , mestre em toxicologia pela USP, é necessário
estudos mais aprofundados sobre o risco toxicológico do material.
"Dessa maneira, poderemos analisar o efeito da migração da
substância presente em alguns plásticos em contato com alimentos
humanos", pondera.

Como identificar

O consumidor pode identificar a presença do BPA nas embalagens
através de um número presente em todas elas. Esse número geralmente
está gravado no fundo dos produtos e identifica o tipo de plástico
utlizado em sua composição e sua indicação, ou não, de
reciclagem. Os plásticos de números 3 e 7 são os que trazem maior
risco de liberarem BPA.

The New York Times: Será que há plásticos tóxicos na sua cozinha?

Tara Parker-Pope
The New York Times

É o que muitas famílias estão se perguntando depois de relatos na
semana passada de que uma substância química usada para fabricar
mamadeiras, garrafas d'água e recipientes para alimentos está sendo
alvo de análises por departamentos de saúde no Canadá e nos Estados
Unidos.

A substância é o bisfenol-a, ou BPA, amplamente utilizado na
fabricação do plástico duro, transparente e quase inquebrável
chamado de policarbonato. Estudos e testes demonstram que material
residual do BPA está se desprendendo de recipientes de policarbonato,
atingindo alimentos e líquidos.

Apesar de o foco ser produtos para crianças, incluindo garrafas de
plástico transparente e leite para bebê industrializado, o plástico
também é usado em recipientes para conservar alimentos, jarros de
plástico transparente usados para água filtrada, garrafas d'água
reutilizáveis e no forro interno de latas de refrigerante e comida.

Apesar do debate existente sobre em que grau o BPA deve preocupar as
autoridades sanitárias, varejistas como o Wal-Mart já afirmaram
estar retirando de suas prateleiras produtos feitos com esse
material. A Nalgene, fabricante de uma garrafa esportiva conhecida, e
a fabricante de produtos de bebês Playtex, anunciaram a interrupção
do uso do plástico em seus processos de fabricação.

Aqui estão algumas respostas a perguntas comuns sobre o BPA.

P. Qual é a evidência de que o BPA é perigoso?
R. Todas vêm de estudos em animais. Filhotes de ratos expostos ao
BPA, através de injeção ou alimentação, demonstraram mudanças no
tecido mamário e da próstata, sugerindo um potencial risco de
câncer. Em alguns testes com camundongos fêmeas, essa exposição
aparentemente acelerou a puberdade.

A versão preliminar de um relatório do Programa Nacional de
Toxicologia, parte do Departamento de Saúde e Serviços Humanos,
observa que não há evidência direta de que a exposição humana ao
BPA prejudique a reprodução ou o desenvolvimento infantil. "Não
creio que há nada nesse informe que gere um alarme", disse Dr.
Michael D. Shelby, diretor do Centro para a Avaliação de Riscos à
Reprodução Humana, que supervisionou o relatório. "Significa que
temos poucas evidências, originadas de alguns estudos realizados em
animais de laboratório".

A principal preocupação é o possível risco para bebês e mulheres
grávidas, apesar de o Canadá ter começado um estudo para monitorar
a exposição ao BPA com 5 mil pessoas para medir o perigo da
substância para adultos.

P. A que quantidade de BPA estamos sendo expostos?
R. O BPA migra para os alimentos vindo de garrafas de plástico de
policarbonato ou de camadas de resina epóxi que forram as comidas
enlatadas. Um adulto típico ingere aproximadamente 1 micrograma de
BPA para cada quilo de massa corporal. Bebês que usam garrafas de
policarbonato ou consomem leite industrializado ingerem mais,
aproximadamente 10 microgramas por quilo de massa corporal. Um
micrograma representa uma quantidade residual. Leve em consideração
que uma única unidade do chocolate M&M tem cerca de 1 grama. Se você
cortá-lo em 100 mil pedaços, cada pedaço equivaleria a 10
microgramas.

A pesquisa sobre saúde e nutrição de 2002-2004 dos Centros para o
Controle e Prevenção de Doenças encontrou níveis detectáveis de
BPA em 93% das amostras de urina coletadas de mais de 2.500 adultos e
crianças maiores de 6 anos.

P. Como sei se os recipientes plásticos da minha casa contêm BPA?
R. Qualquer produto feito de plástico duro e transparente
provavelmente é feito de policarbonato, a não ser que o fabricante
especifique que o produto é livre de BPA. Uma forma de confirmar
isso é procurar o símbolo do triângulo no fundo do produto ou perto
do fundo: plásticos de policarbonato devem ter o número 7 no
triângulo, às vezes com as letras PC.

Infelizmente, 7 é uma categoria genérica que classifica como
"outros", ou uma grande variedade de plástico. Na minha própria
cozinha, só encontrei um único produto com o 7 - embalagens da
sobremesa de frutas que minha filha leva para a escola. Mas o
plástico é flexível e dobrável, então provavelmente não é feito
de BPA.

Também encontrei garrafas de água reutilizáveis sem o selo. Por
serem duras, inquebráveis e transparentes, é plausível deduzir que
elas são feitas de policarbonato.

P. E os alimentos e bebidas enlatados?
R. Apesar de as garrafas de plástico ser o maior foco, grande parte
da exposição humana acontece através da camada que cobre de
alimentos enlatados. Bebidas enlatadas parecem conter menos dessa
substância química em relação a alimentos enlatados como sopa,
massas, frutas e vegetais, que são freqüentemente processados em
altas temperaturas. Praticamente qualquer produto enlatado, até mesmo
os rotulados como orgânicos, têm uma cobertura de BPA. Uma marca, a
Eden Organic Baked Beans, afirma usar latas livres de BPA.

P. Como posso diminuir minha exposição ao BPA?
R. Prefira consumir vegetais frescos ou congelados. Use recipientes
de vidro, porcelana ou aço inoxidável, especialmente para alimentos
e líqüidos quentes. Se você não quiser usar uma mamadeira de
vidro, há muitas empresas, incluindo a marca popular Born Free, que
agora vendem garrafinhas e copinhos de bebê livres de BPA.

Para bebês que se alimentam de leite industrializado, você pode
optar por leite em pó em vez de líquido. Apesar de muitos produtos
de plástico ser vendidos como "próprio para o uso no microondas",
alguns cientistas desaconselham colocar qualquer tipo de plástico
nesse tipo de forno.

"Há tanta variedade hoje, desde recipientes descartáveis aos
verdadeiros Tupperware", afirma Anila Jacob, cientista sênior do
Environmental Working Group, um grupo de defesa com base em
Washington. "Não conheço ninguém que tenha realizado testes
definitivos com todos esses tipos diferentes de recipientes de
plástico para ver o que está se desprendendo e contaminando os
alimentos".

Do UOL Ciência e Saúde

http://veja.abril.com.br/010409/p_110.shtml
Monica Adamczyk/Stock Photos