domingo, 21 de novembro de 2010

Abordagem para diagnóstico e tratamento da tosse crônica baseada em evidência

Uma revisão baseada em evidências, publicada no volume de abril do Annals of Allergy, Asthma & Immunology, fornece informação sobre vários diagnósticos e tratamentos da tosse crônica em adultos e crianças.

“A tosse crônica (com duração de mais de oito semanas em adultos e quatro semanas em crianças) é um evento comum (10% a 20% em adultos) e debilitante”, segundo Dr. Matthew A. Rank, da Mayo Clinic, em Rochester, Minnesota. Ele lembra que a tosse possui um importante papel fisiológico no sistema de defesa orgânico devido à limpeza do excesso de secreções e dos organismos estranhos às vias aéreas. Em alguns pacientes, contudo, ela pode ser excessiva, desnecessária e deteriorar a qualidade de vida do paciente.

Três organizações publicaram diretrizes para avaliação e tratamento da tosse crônica: American College of Chest Physicians (ACCP), British Thoracic Society (BTS) e European Respiratory Society. Esta revisão cobre os pontos-chave destas diretrizes, enfatizando três principais causas de tosse crônica em adulto (síndrome da tosse da via aérea superior (conhecida também como síndrome do gotejamento pós-nasal), asma e doença do refluxo gastroesofágico (DRGE), além de aspectos do diagnóstico e tratamento da tosse crônica em crianças.

Os autores selecionaram estudos baseados na relevância diagnóstica e terapêutica da tosse crônica. Foram identificados poucos estudos randomizados e por isso os autores selecionaram, também, estudos retrospectivos e não-randomizados após considerarem seu impacto e suas limitações.

Existem vários estudos prospectivos, não-controlados, para adultos com tosse crônica que apresentam alta percentagem de diminuição da tosse com uma abordagem focada no diagnóstico e tratamento das causas mais comuns citadas acima. Estudos preliminares realizados com crianças endossam uma abordagem que diferencie a tosse seca da tosse produtiva e associe uma investigação aprofundada dos sintomas específicos que indiquem doença crônica. Os alergistas, como especialistas em tratamento de vias aéreas, são preparados para tratar a tosse crônica.

Os autores recomendam uma abordagem de tratamento baseada na anatomia das terminações aferentes vagais. Essa abordagem se mostra bem sucedida com a maioria dos pacientes.

Em pacientes adultos sem causa aparente para a tosse, as três causas mais comuns são: síndrome do gotejamento pós-nasal, asma e doença do refluxo gastroesofágico. Tais condições requerem um tratamento meticuloso.

Para adultos que apresentam radiografias de tórax normais e nenhuma história de tabagismo, são recomendados os seguintes testes e abordagens terapêuticas:

■Síndrome do gotejamento pós-nasal – trate a causa específica, caso seja encontrada; outra opção é usar tratamento empírico com esteróide intranasal ou anti-histamínico de primeira geração ou descongestionante.

■Doença do refluxo gastroesofágico – trate empiricamente com terapia farmacológica anti-refluxo; se não houver melhora, considere esofagograma, phmetria ou manometria.

■Asma – realize barometria e broncoestimulação, se necessário; caso contrário, tratamento empírico com corticosteróides inalatórios e modificadores de leucotrienos e esteróides sistêmicos.

■Bronquite eosinofílica não-asmática - teste eosinofilia no escarro se disponível; trate com corticosteróides inalatórios.

■Tosse por uso de inibidor da enzima conversora da angiotensina – interrompa a droga e acompanhe por três meses.

■Tosse ocupacional – elimine, reduza ou modifique a exposição aos fatores desencadeantes.

■Doença supurativa das vias aéreas – realize diagnóstico com broncoscopia e trate com antibioticoterapia de longo prazo.

■Tumores de pulmão – se houver suspeita, mesmo com radiografia e tomografia computadorizada do tórax normais, realize broncoscopia.

■Aspiração – realize uma avaliação da deglutição e trate com base nos achados.

■Tosse por tique nervoso – encaminhe o paciente a um psiquiatra.

■Nervo de Arnold – remova o fator irritante da membrana timpânica.

■Tosse inexplicada – trate empiricamente com medicações antitussígenas.


Em crianças com tosse crônica, achados específicos podem representar dicas para um diagnóstico específico. Sibilos podem indicar asma ou traqueomalácia; roncos podem indicar doença parenquimatosa, tosse purulenta pode indicar bronquiectasia ou fibrose cística, baqueteamento digital pode indicar doença supurativa pulmonar; atraso no desenvolvimento pode estar relacionado à aspiração e falha no crescimento pode indicar grave alteração sistêmica.

A tosse crônica é uma das causas principais de consultas médicas e de frustrações para os pacientes, os quais muitas vezes já foram submetidos a um tratamento sem os resultados esperados. A tosse crônica em crianças deve ser abordada de maneira diferente, para isso o alergista deve estar no papel principal de diagnosticar e tratar essa condição.

FONTE: Ann Allergy Asthma Immunol. 2007;98:305-313.

Informação sobre a autora: A Dra. Laurie Barclay é revisora e escritora freelancer para o Medscape. Declaração de conflito de interesses: A autora declara não possuir conflito de interesses.