quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Déficit comercial da química fina deve chegar a US$ 5,7 bilhões

Há, hoje, uma desindustrialização, com sucateamento do setor. Observamos o abastecimento do mercado interno por produtos importados, justificando déficit, diz gerente da Abifina

Mais um segmento industrial revela os sintomas do processo de desindustrialização para o qual especialistas e empresas vêm alertando. A Associação Brasileira das Indústrias de Química Fina, Biotecnologia e suas Especialidades (Abifina) estima que o déficit comercial do setor este ano fique em cerca de US$ 5,7 bilhões. O cálculo foi realizado com base nos principais grupos industriais, todos com projeção de ter saldo negativo até o fim de 2010 - defensivos agrícolas (US$ 430 milhões), farmoquímicos (US$ 1,5 bi), medicamentos (US$ 2 bi) e vacinas (US$ 1 bi). Esses são justamente os segmentos de maior intensidade tecnológica dentro da química fina.

"São duas décadas de desindustrialização, com o sucateamento do setor, que vem desde a abertura econômica promovida pelo governo federal no início dos anos 90. Observamos, por conta desse processo, o abastecimento do mercado interno por produtos importados, justificando o déficit do setor. Ficou mais viável importar do que produzir localmente. O fenômeno tem se intensificado nos últimos anos devido à baixa do dólar, às altas taxas de juros e carga tributária, além da falta de uma política industrial consistente para incentivar a produção local", contextualiza a gerente técnica da Abifina, Diva Arrepia.

O volume maior de importações em relação às exportações na química fina registrou crescimento na série histórica: US$ 2,6 bi em 2005; US$ 2,9 bi em 2006; US$ 4 bi em 2007; US$ 5,2 bi em 2008. Porém, em 2009, o déficit caiu para US$ 4,9 bi, uma retração de 4% em relação ao ano anterior. "Essa redução se deve, provavelmente, à crise internacional, que derrubou a demanda por produtos químicos de uma maneira geral no primeiro semestre, apesar do câmbio ainda favorável às importações", analisa Diva, destacando que, no entanto, até dezembro o déficit chegará a seu valor mais alto nos últimos cinco anos.

Nos primeiros sete meses deste ano, a química fina já registrou saldo negativo de US$ 3,3 bilhões. Segundo Diva, o segmento de vacinas de uso humano terá o maior percentual de aumento de déficit, devido à grande importação de imunizantes contra o vírus da gripe H1N1. Os quatro grupos levantados pela Abifina representam mais de 90% das importações e exportações da química fina. O segmento de defensivos responde por 16% do saldo negativo do setor; o de fármacos, 33%; o de medicamentos, 40%; e as vacinas, 5%.

(Fonte: Natália Calandrini para Notícias Protec - 06/10/2010