quarta-feira, 7 de julho de 2010

Lilly corre contra relógio para compensar perda de patentes

O presidente da Eli Lilly & Co., John Lechleiter, está diante do pesadelo de qualquer farmacêutica.

A partir deste ano, ele vai perder a proteção de patente nos Estados Unidos para oito drogas num período de oito anos, o que abrirá o caminho para que concorrentes genéricos corroam as vendas da Eli Lilly. Os remédios geram atualmente cerca de três quartos da receita anual da farmacêutica.

Lechleiter, um veterano da Lilly que foi promovido à presidência em 2008, promete amortecer o impacto com a perda das patentes concentrando-se mais intensamente no desenvolvimento de remédios para doenças difíceis de tratar. Entre elas, mal de Alzheimer, câncer e diabetes.

Ao mesmo tempo, a Lilly está cortando custos para se preparar para a esperada baixa das vendas, depois do vencimento da patente do campeão de vendas Zyprexa, um antipsicótico que perde a proteção em outubro de 2011. No ano passado, a empresa anunciou planos de dispensar 5.500 funcionários até o fim de 2011.

Mas Lechleiter evitou ir atrás de uma grande fusão, como fizeram alguns de seus concorrentes, embora a Lilly tenha anunciado na sexta-feira um negócio pequeno: a compra da Alnara Pharmaceuticals Inc., uma empresa voltada ao desenvolvimento de remédios para doenças do metabolismo.

Lechleiter, químico por formação, compartihou sua estratégia em uma entrevista ao Wall Street Journal em seu escritório em Indianápolis, no Estado americano de Indiana. Trechos:

WSJ: Como o sr. está se preparando para onda de vencimento de patentes que se aproxima?

John Lechleiter: Nós estamos avançando no conjunto de projetos mais interessantes que já tivemos em nossa história, 65 (drogas experimentais) que estão em algum estágio de desenvolvimento clínico. Entre elas, estão duas diferentes maneiras de, temos esperança, tratar o mal de Alzheimer.

WSJ: Como o sr. motiva os funcionários da Lilly diante da aproximação desse momento?

Lechleiter: Nosso pessoal sabe que temos grandes desafios pela frente. Eles sabem que tirar [drogas experimentais] da fase de projeto em um setor como o nosso é arriscado. Eu tento lembrar as pessoas de acreditar na nossa capacidade de superar desafios. É essa a natureza dos comentários que faço aos funcionários no meu blog [interno], ou quando estou fazendo apresentações. Eu não não uso o Twitter ainda.

WSJ: Por que o sr. evitou buscar uma grande fusão como fizeram seus concorrentes, como a Pfizer Inc., que comprou a Wyeth, e a Merck & Co, que assumiu o controle da Schering-Plough?

Lechleiter: Não vimos nenhuma evidência de que grandes empresas combinadas possam ser mais inovadoras do que a Eli Lilly, que atualmente está gastando entre US$ 4 [bilhões] e US$ 5 bilhões por ano em pesquisa e desenvolvimento.

WSJ: Se não uma grande fusão, que estratégias a Lilly vai adotar nos próximos anos?

Lechleiter: Eu espero que nós reforcemos a nossa capacidade de trabalho na área da medicina de diagnóstico, embora não tenha planos de de adquirir uma empresa de diagnóstico. Acho que podemos fazer esse trabalho com parceiros externos.

WSJ: Que passos o sr. está tomando para tirar proveito de uma recuperação econômica?

Lechleiter: Nosso negócio não tende a ser tão restrito ou dependente de uma alta no ciclo econômico, nem mesmo somos impactados negativamente nos momentos de baixa. O que é mais significativo para nós é o contínuo desafio que enfrentamos de posicionar nossos produtos dentro dos sistemas de saúde, que tentam suprir demandas crescentes e ainda assim controlar os custos em alta.

WSJ: As farmacêuticas foram criticadas por cobrar preços altos por seus produtos. Qual a sua resposta para essa crítica?

Lechleiter: Nos EUA, os remédios representam apenas 10% do gasto total com saúde. Achamos que os medicamentos usados de forma apropriada são a maior pechincha do sistema de saúde, já que levam as pessoas de volta para o trabalho e evitam cirurgias caras e hospitalizações. Ainda assim, porque tendemos a ser uma parte muito visível desse orçamento, existe sempre a tentação de dizer: "Nós vamos solucionar nossos problemas cortando custos ou limitando acesso ou elevando o copagamento para um remédio em particular". Nós tentamos argumentar contra isso quando achamos que temos fatos fortes para defender que aquele medicamento tem um valor maior para aquele plano, ou para aquele país, do que seria reconhecido se considerado apenas o preço. Esse é um desafio contínuo. Acho que esse é, provavelmente, o maior desafio que o nosso setor enfrenta.

WSJ: Muito da sua receita em todo o mundo vem de governos compradores, muitos dos quais estão limitados, saindo de uma recessão. O que está acontecendo nessa área?

Lechleiter: O impacto da recessão é sentido pelos governos em termos de queda da arrecadação e pressões orçamentárias, que vemos hoje claramente manifestadas na Europa. Espanha e Itália anunciaram planos de adotar medidas austeras que, provavelmente, afetarão a forma como somos reembolsados por nossos produtos.



Fonte: Valor Econômico
Notícia publicada em: 07/07/2010
Autor: Peter Loftus - The Wall Street Journal Americas