A catadora de materiais recicláveis Rosemeire Custódio de Oliveira, 33, morreu poucos minutos após ser medicada no Pronto-Atendimento do Santa Antonieta, na madrugada de ontem. A família acusa o médico plantonista Werner Garcia de Souza, que atendeu Rosemeire, de negligência médica e pretende acionar a Justiça contra o município.
De acordo com a mãe da vítima, Maria Helena Clemente, 66, mais conhecida como ‘Dona Nena’, a filha sentia fortes dores de estômago e falta de ar, mas conseguia caminhar sozinha.
“Estávamos preocupados e chamamos a ambulância. Ela foi levada ao Hospital das Clínicas e nos foi dito que o caso dela não era urgente. Logo depois, minha filha foi encaminhada ao PA do Santa Antonieta”, relata a mãe.
Ouça abaixo a dona Nena
Ainda segundo Maria Helena, o atendimento não demorou mais que 30 minutos. Rosemeire foi então medicada com dois comprimidos de catopril, remédio usado no tratamento à hipertensão. Meia hora depois, ela foi novamente medicada com uma injeção, entretanto a família não foi informada do que se tratava.
Cinco minutos após a aplicação, a catadora e a mãe se preparavam para retornar para casa quando Rosemeire caiu pálida e suando frio.
“Levaram ela para um quarto e escutava ela gritar que não queria morrer. Pouco depois, um paciente me informou que ela estava morta. Não foi o médico ou qualquer outro funcionário, foi um paciente”, diz a mãe, afirmando que o médico sumiu e até o final da tarde de ontem não havia recebido explicações da Secretaria da Saúde.
O atestado de óbito relata que Rosemeire faleceu de insuficiência cardíaca congestiva e cardiomegalia global. O caso será investigado pelo 1º DP, que deve receber o laudo da necrópsia entre 20 e 30 dias.
“Sofredora, mas feliz”, dizem amigos e família
Moradora em bairro humilde na zona oeste da cidade, sétima filha de um total de nove irmãos, catadora de recicláveis, divorciada e mãe de quatro filhos, Rosemeire Custódio de Oliveira, 33, não teve uma vida fácil, mas sempre se mostrou feliz para aqueles que conviveram com ela.
“Por ser a caçula das meninas, ela demorou a começar a trabalhar. Mas ajudava muito nas tarefas de casa. Sofreu com alcoolismo e teve que entregar a guarda dos filhos, mas sempre foi muito querida por todos. Adorava um bate-papo e já sinto saudades dela”, diz emocionada a dona de casa Cleusa de Oliveira, 42, uma das irmãs de Rosemeire.
Vizinha, a também dona de casa Ângela Bombonato, 32, diz que a catadora sempre foi muito divertida e confirma: ela adorava conversar.
“Ela sempre passava na frente de casa e me chamava. Sentávamos e ficávamos conversando por horas. Ela projetava uma vida melhor e queria ter a sua própria casa, mas o destino arrancou tudo dela”, diz Ângela. (W.A)
Família descrente na saúde municipal
“Perdi todo o carinho que tinha por essa cidade. Minha vontade é arrumar as minhas malas, dos meus filhos e netos e levar todos embora daqui. O modo como minha família foi tratada ontem não se trata um animal. Nada a trará de volta, mas não vou deixar barato. Quero Justiça a qualquer custo”.
Com essa frase, Maria Helena Clemente, 66, mãe de Rosemeire Custódio de Oliveira, 33, morta ontem no Pronto-Atendimento do Santa Antonieta, descreveu a dor de velar a filha.
Vinícius Cardoso, 46, cunhado da vítima, também tentou passar o duro golpe que a família sofreu. “Não é natural uma mãe enterrar o filho, ainda mais nessas circunstâncias. A família está abalada tanto pela perda quanto pelas causas suspeitas dela”.
Cristina de Oliveira, 37, irmã de Rosemeire, lamentou o óbito e se disse preocupada com a população mais carente da cidade.
“De alguns meses para cá, a saúde em Marília está mais precária. Sei que não é a primeira vítima de negligência do PA e acredito que não seja a última. Depois do que passamos, perdi a confiança na saúde municipal”, desabafou. (W.A)
Prefeitura diz que paciente passou mal
Procurada pela reportagem do Jornal Diário, a Prefeitura defendeu o procedimento médico no caso da morte de Rosemeire de Oliveira. Em nota, foi alegado que ela sofria de falta de ar e inchaço nas pernas quando deu entrada no Pronto-Atendimento do Santa Antonieta. Nota sugere ainda que a vítima sofria de “Síndrome de Dependência Química” e assim que deu entrada no PA foi verificado que ela estava com taquicardia e hipertensão e que ela havia relatado ao médico que sofria de cardiopatia.
“(...)Foram realizados eletrocardiograma da paciente, assim como o uso das medicações captopril, propanolol, e diclofenaco sódico (...)”, completa a nota, acrescentando que após o uso da medicação, a paciente foi reavaliada e liberada. (W.A)
Vítima deixa mãe, 4 filhos e 8 irmãos
Rosemeire Custódio de Oliveira, 33, está sendo velada na sala 6 do Velório Municipal e seu corpo será sepultado hoje, às 10h30, no Cemitério de Oriente.
Ela deixa as filhas Pâmela, 13, Karen, 7, Kelly, 4, e o menino Allan, 10. Karen e Kelly, frutos da última união civil de Rosemeire, já estavam sob custódia de uma das irmãs. A primogênita mora com o pai, na zona norte de Marília, assim como Allan, o caçula, com o pai em Oriente. Nenhum dos filhos compareceu ao velório até o início da noite de ontem.
Ela também deixa a mãe, Maria Helena Clemente e oito irmãos: Leonice, Vera, Cleusa, Maria Lúcia, Cristina, Valdir, Edson e Anderson. (W.A)
Médico pode ser punido pelo CRM
Acusado de negligência médica, o médico plantonista Werner Garcia de Souza, pode até ter o registro cassado caso seja comprovado o erro no caso da morte de Rosemeire.
Segundo informações da delegacia do Conselho Regional de Medicina de Marília, a denúncia contra o médico por parte da família precisa ser oficializada para que seja aberta uma sindicância interna que, se procedente, dará origem a um processo.
Caso seja comprovado o erro, o profissional pode ser punido desde à advertência até com a cassação do registro. O prazo máximo para finalização do processo é de oito anos. (W.A)
Fonte:http://www.diariodemarilia.com.br/Noticias/81883/Com-dores-mulher-vai-posto-de-sade-e-morre-aps-injeo