domingo, 25 de abril de 2010

Chega de dor

Levantamento da Sociedade Brasileira de Cefaleia mostra que mais de 15% da população sofre com algum tipo de dor de cabeça crônica

Saber que conviver com elas não é uma situação normal. É preciso procurar ajuda profissional porque, invariavelmente, as dores de cabeça têm cura. "As pessoas tendem a tratar qualquer tipo de dor com analgésicos, sem procurar o motivo que tem gerado de fato o problema. Em mui­tos casos, dores fortes e constantes es­condem problemas mais sérios como si­nusite ou mesmo algum tumor e até meningite", afirma a neurologista.
A médica explica que as normas inter­nacionais de cefaleia dividem as dores de cabeça em dois grupos majoritários: os casos primários e os secundários. As cefa­leias primárias, segundo Eliana, são aque­las chamadas tensionais, em que há mo­tivos definidos que originam a dor, como a má alimentação, o estresse, o cansaço ou a insônia. As tensionais também têm um outro subgrupo, que são as famosas enxa­quecas, caracterizadas por dores crônicas e mais pesadas, que dificultam, inclusive, a interação social dos pacientes.
Integrante do Centro de Dor e Neuroci­rurgia Funcional do Hospital Nove de Julho, em São Paulo, o médico Antonio Cézar Galvão esclarece que as enxaquecas podem durar até 72 horas ininterruptamente e os sintomas incluem ataques de dor com mé­dia ou forte intensidade, e, às vezes, podem ser acompanhados de náuseas, vômitos, intolerância aos sons e à luz. "O diagnós­tico do problema depende de cada caso e leva em conta o histórico familiar, as con­dições de vida do paciente e o tipo de ali­mentação que adota. A frequência com que a pessoa sente a dor também é levada em conta na hora de classificar o problema, contudo, o que o paciente precisa saber é que o médico deve ser procurado se as dores aparecerem mais que três vezes por mês", explica Galvão. As mulheres, segun­do o neurologista, são as que mais sofrem com o problema, principalmente no perí­odo pré-menstrual. O especialista conta que as dores estão relacionadas com a queda dos níveis hormonais durante os dias que precedem o período menstrual. Em muitos casos, a ingestão de alimentos gor­durosos, o uso de medicamentos vasodi­latadores, a exposição a ruídos fortes e constantes, além das grandes altitudes e mudanças bruscas de temperaturas podem desencadear o problema.
De acordo com a ABN, grande parte das dores de cabeça crônicas também estão relacionadas a causas psicológicas. "Em alguns casos, além de substituirmos os anal­gésicos por antidepressivos, pedimos a ajuda de profissionais de orientação psico­lógica e até mesmo de acupuntura, para os casos relacionados às tensões musculares", explica Antonio Cézar Galvão. O neurolo­gista afirma que o ponto fundamental do tratamento das cefaleias está na prevenção de novas crises. Por isso, os tratamentos são ministrados muitas vezes com medicamen­tos que agem nos neurotransmissores en­volvidos na dor e na dilatação dos vasos, como anti-hipertensivos, anticonvulsivantes e os já mencionados antidepressivos. "Além do acompanhamento farmacológico, é fundamental que as pessoas mudem seus hábitos. Ter horário para comer e dormir são pontos essenciais para aliviarmos as dores crônicas", ressalta o médico.
Outro grande aliado no combate às do­res de cabeça são as atividades físicas. Exer­cícios diários estimulam a produção de endorfinas, que são substâncias produzidas pelo nosso organismo e que atuam direta­mente na dor. "Na prática, essas substâncias são analgésicos naturais do nosso corpo e inibem a inflamação e a dilatação dos vasos do crânio, responsáveis pelas dores de ca­beça", comenta o médico. Pelo contrário, movimentos bruscos com a cabeça podem agravar ainda mais o problema.

Já as cefaleias secundárias ocorrem com menor frequência no Brasil. Apenas 6,5% dos pacientes diagnosticados com dores de cabeça apresentam problemas neurológicos graves, como acidentes vasculares, menin­gite ou tumores. Mesmo tendo uma baixa incidência, a procura de um especialista é importantíssima para evitar o agravamento do problema e possibilitar o diagnóstico fácil e o rápido tratamento. Segundo a neu­rologista Eliana Melhado, da ABN, dores muito fortes e súbitas na parte frontal ou lateral da cabeça são sinais claros da neces­sidade de acompanhamento especializado. "Geralmente é só nessa fase aguda e insu­portável que o paciente se preocupa e pen­sa que algo mais grave pode ocorrer. Via de regra, se as dores incomodam mais de três vezes por mês, são sinais de que algo não anda bem. Tratar com analgésicos desen­freadamente é retardar a solução de um problema", alerta a médica.
A neurologista Eliana Melhado lembra o papel fundamental que o farmacêutico tem na orientação desses pacientes a par­tir da implantação das novas regras. "An­tes de vender o medicamento, pergunte a quantidade de comprimidos que as pes­soas tomam semanalmente e por que tomam esses comprimidos. Se o cliente toma mais de dois ou três por semana, a fim de curar dores de cabeça, é preciso orientá-lo sobre riscos da falta de trata­mento", explica a médica. Ela argumenta que o farmacêutico tem papel fundamen­tal na difusão da saúde pública no País. "É o primeiro agente de saúde consultado em qualquer lugar do Brasil. Por isso, é importantíssima a difusão do conhecimen­to nas farmácias. Aqueles que consegui­rem transformar seus estabelecimentos em núcleos de saúde estarão um passo à frente no mercado", completa.

Fonte: Guia da farmacia