Pesquisadores reportam que idosos com um forte senso de propósito na vida são quase 2 vezes e meia menos propensos a desenvolver a doença de Alzheimer (DA).
O novo resultado soma-se aos dados emergentes sugerindo que fatores psicológicos e vivenciais estão associados à disfunção cognitiva.
“Nossos resultados sugerem que fatores positivos, como um senso de orientação para metas, que direciona o comportamento, podem fornecer um amortecedor contra desfechos negativos na saúde, especialmente na velhice”, a co-autora Lisa Barnes, PhD, do Rush University Medical Center, em Chicago, Illinois, contou à Medscape Psychiatry.
“Esses resultados são importantes por causa das implicações potenciais na saúde pública”, ela observou. “Um propósito na vida é algo que nós realmente podemos modificar na velhice, ao fornecer aos idosos estratégias específicas que eles possam utilizar para encontrar um significado nas atividades, alcançar propósitos e objetivos”.
Menos disfunção cognitiva
Os pesquisadores conduziram um estudo epidemiológico, prospectivo, longitudinal, com mais de 900 de idosos sem demência, residentes na comunidade.
O grupo, liderado por Patricia Boyle, PhD, também da Rush University, avaliou o propósito na vida e uma média de 4 anos de avaliações clínicas anuais detalhadas de acompanhamento. Os participantes eram oriundos do Rush Memory and Aging Project.
Pouco mais de 16% da população do estudo desenvolveu DA. Em um modelo de risco proporcional ajustado para idade, sexo e educação, os pesquisadores descobriram que um propósito maior na vida foi associado a um risco de doença substancialmente reduzido. O hazard ratio foi de 0,48, com um intervalo de confiança de 95% de 0,33 a 0,69 (P < ,001).
Em análises subsequentes, a Dra. Boyle e sua equipe examinaram a associação de um propósito na vida com a disfunção cognitiva leve, uma manifestação pré-clínica precoce da doença de Alzheimer.
Eles concluíram que o propósito na vida também reduziu o risco de disfunção cognitiva incidente. O hazard ratio foi de 0,71, com um intervalo de confiança de 95% de 0,53 a 0,95 (P = ,02).
“Não podemos estabelecer a causalidade com certeza”, afirmou a Dra. Barnes. “Contudo, descobrimos que o propósito na vida foi um fator de proteção contra a doença de Alzheimer, mesmo após ajustes para fatores importantes, como sintomas depressivos, neuroticismo, redes sociais e várias condições médicas crônicas. Ele também persistiu em análises de sensibilidade, nas quais nós excluímos sequencialmente as pessoas que desenvolveram a doença de Alzheimer durante cada um dos 3 primeiros anos de acompanhamento”.
Isso, a Dra. Barnes explicou, foi para lidar com as preocupações de que talvez aqueles na coorte apresentavam doença de Alzheimer não diagnosticada ou leve.
“Embora nossa capacidade de inferir causalidade possa ser limitada, esses tipos de controles adicionais reforçam nossa confiança nos resultados”, ela observou.
Bem-estar psicológico
Outro estudo recente concluiu que um sentimento de propósito na vida foi o fator mais importante na determinação dos desfechos de saúde mental após um trauma grave (Am J Psychiatry. 2008;165:1566-1575).
“Descobrimos que o fator psicossocial mais importante associado à resiliência ou ao estado de recuperação foi um grande sentimento de propósito na vida”, Adriana Feder, médica, da Mount Sinai School of Medicine, na cidade de Nova York, contou à Medscape Psychiatry quando o estudo foi publicado pela primeira vez na edição eletrônica de novembro. “Nós também descobrimos que o domínio, ou um forte sentimento de controle sobre a vida de alguém, foi significativamente associado a um estado de recuperação”.
Este novo estudo é supostamente o primeiro a avaliar o propósito na vida e o risco de DA, mas os pesquisadores avaliaram outros desfechos na saúde nesta mesma coorte e observaram uma redução no risco de morte.
“O propósito na vida é um indicador de desenvolvimento humano que se supõe estar relacionado a um bem-estar psicológico melhor”, alegou a Dra. Barnes.
Este estudo foi financiado pelo National Institute on Aging, do departamento de saúde pública de Illinois, e pelo Robert C Borwell Endowment Fund. Os pesquisadores não declararam conflitos de interesses.
Fonte: Arch Gen Psychiatry. 2010;67:304-310.