Neo Química, cujo controle está sendo negociado com a Pfizer, deve funcionar como uma plataforma para o laboratório americano colocar seus medicamentos campeões de venda no mercado brasileiro antes do vencimento de suas patentes, segundo esperam observadores do mercado.
"É a única explicação plausível para justificar o valor que está sendo considerado para a empresa", diz uma fonte que acompanha a negociação. A transferência do controle da fabricante brasileira de medicamentos de Anápolis (GO), com receita líquida de R$ 270 milhões, poderá ultrapassar R$ 1 bilhão.
"Os múltiplos de venda da empresa sobre a geração de caixa estão muito altos em relação ao padrão histórico. É isso o que convence o empresário nacional a abrir mão do controle da empresa", afirmou outra fonte, indicando múltiplos superiores a 12 vezes o Ebitda - geração de caixa, sem encargos.
A Neo Química, grande produtora de medicamentos similares e alguns medicamentos genéricos com prática de atender pequenas e médias farmácias, é controlada pela família Limírio Gonçalves desde 1981. Segundo apurou o Valor, a maior
resistência para a conclusão da transação foi praticamente eliminada. Marcelo Limírio Gonçalves Filho, herdeiro de 30 e poucos anos, que leva o mesmo nome do pai, já teria aceitado a venda do laboratório, que completou 50 anos neste ano.
Inicialmente, ele teria resistido à venda, mas acabou convencido pelo pai devido ao alto valor.
Procurado, o laboratório Neo Química não retornou o pedido de entrevista. A Pfizer, que informou não comentar especulações de mercado, disse que não fechou nenhum acordo, mas adiantou que sua meta é expandir o portfólio de produtos e buscar oportunidades em países estratégicos como o Brasil. Ao mesmo tempo em que perderá a proteção de patentes, a Pfizer tem encontrado dificuldades para desenvolver novas drogas de inovação para sustentar seu crescimento futuro.
A compra permitirá ao laboratório americano esticar o potencial de vendas de suas drogas quando perderem a exclusividade. "A Pfizer poderá ter uma segunda licença do seu produto que perderá a exclusividade lançando-o pela plataforma Neo Química antes do fim da patente", explicou a fonte.
O fabricante que lança o primeiro genérico no mercado costuma conquistar rapidamente a liderança, substituindo o produto patenteado, em razão do preço inferior. Mesmo com a chegada de outros rivais numa segunda fase, a empresa
pioneira, de modo geral, mantém uma dianteira no mercado.
A droga da Pfizer para controle do nível de colesterol Lipitor, cuja patente vence em 2010, e a pílula anti-impotência do laboratório, o Viagra, que perde a exclusividade em 2011, representaram nos últimos 12 meses vendas conjuntas de
quase R$ 300 milhões no mercado doméstico - um quarto das vendas da companhia no país. A compra da Neo Química poderá dar sobrevida às vendas destes medicamentos.
Fonte: Valor Econômico